Mãe Laura e Emenson Silva |
“Obatalá
decidiu viver com os orixás no espaço sagrado que fica entre o Aiyê (terra), e
o Orun (céu)”. A morte faz parte da vida, muda-se apenas a existência, mas o
espírito persiste. Para nós candomblecistas, o bom é morrer com muitos anos de
vida, assim como foi a belíssima passagem terrena de Mãe Laura, grande líder
espiritual e comunitária de Ilhéus e região. Para nós, vida longa e sinal de
que a pessoa viveu em sintonia com os desígnios divinos.
O luto
é entendido como um rito de passagem, uma vez que a morte, é compreendida como
um fato social de importância. Existem ritos e rituais no candomblé que são
realizados para chegarmos próximos do entendimento dessa mudança de condição
para os que ficam no Aiyê (terra) e para quem se foi de volta ao Orun (céu).
Momento
de grande reflexão e silêncio, pois estamos em meio a essa trágica Pandemia do
Coronavírus, daí cabem algumas indagações: como ficam as obrigações fúnebres?
Como vivenciar esse luto? Como cumprir nossos ritos que é uma premissa indispensável
no candomblé?
Os
adeptos do candomblé assumem a doença e morte como uma decorrência da vida.
Entretanto, mesmo sabendo desses fenômenos, não estamos preparados para as
perdas como uma dessas da Yalorixá Mãe Laura Sandoiá, sacerdotisa, mulher negra,
líder firme em seus posicionamentos, empoderada e mestra da cultura popular.
Como
adepto do candomblé, falo da morte não para expurgá-la, mais para restituir-lhe
a leveza e reiterar nossa crença na continuidade e nos laços eternos que nos
unirá sempre.
Quero
trazer com essa reflexão, toda minha emoção, todo meu sentimento de
fraternidade e solidariedade a toda família do Ilê Axé Guainá de Oyá.
Sentiremos saudades, da nossa querida Mãe Laura, que permanecerá conosco em espírito,
e estará no Orun ao lado de Obatalá, e será sempre reverenciada aqui no Aiyê,
pelos seus grandes feitos ao axé, símbolo de lutas e resistências. Por isso
viver de forma digna é condição fundamental para seguir o seu destino, mesmo
depois da morte.
Que
Oxalá, acomode a dor e os sofrimentos dos que aqui ficaram e promova a inserção
de Mãe Laura Sandoiá, no mundo espiritual dos ancestrais.
Axé!
Agô.
Por: Emenson Silva